Lembro das
dores sem explicação na época do colegial...
Lembro do meu constante problema com meu intestino, ora preso, ora solto...
Lembro da minha mãe, desde que eu era bebê, correndo comigo em todos os médicos
possíveis para tentar saber se era normal, eu já ter nascido assim, com
problemas no intestino...
Lembro de passar uma vida, batendo no consultório de médico em médico, fazendo todos os tipos de exames, sem descobrir o que realmente eu tinha...
Lembro de passar uma vida, batendo no consultório de médico em médico, fazendo todos os tipos de exames, sem descobrir o que realmente eu tinha...
Lembro como se fosse hoje, da minha primeira internação, eu estava tão
assustada, em ter que ficar sozinha lá, sem minha mãe, sem minha família ao meu
lado... Aquela comida horrível...
Lembro de todos os enfermeiros e enfermeiras que cuidaram de mim, durante todas as internações que eu tive, uns mal humorados, porém outros, me faziam feliz só de estarem ao meu lado, me segurando a mão, enquanto o colega procurava minhas veias dançantes...
Lembro de todos os enfermeiros e enfermeiras que cuidaram de mim, durante todas as internações que eu tive, uns mal humorados, porém outros, me faziam feliz só de estarem ao meu lado, me segurando a mão, enquanto o colega procurava minhas veias dançantes...
Lembro de todas as reflexões que eu tive enquanto estava lá, esperando o dia e
a noite passar no hospital... O que mais a gente pensa é “Tenho que dar valor a
minha vida quando eu estou bem de saúde...”
Lembro de cada médico que passei, uns malucos, outros experientes porém nem
tanto, outros que só de entrar no consultório eu já ficava melhor, outros anjos
que me colocaram no caminho certo, outros que davam puxões de orelha necessários,
outros que só queriam ganhar dinheiro comigo, e outros que eram residentes para
o meu medo, porém, foram guiados pelas mãos de Deus...
Lembro de olhar pelas janelas de todos os quartos que eu fiquei internada, e
olhar as pessoas andando lá fora, na rua... E ficar pensando na vida, ficar
pensando como seria ser uma pessoa assim, sem uma doença autoimune, sem
precisar me preocupar com isso todos os dias...
Lembro de todas as colonoscopias que eu fiz,ôxi, mas que exame chato né... rs.
Lembro de como eu chorei quando o médico me disse que precisaria fazer a
primeira delas... Hoje eu já choro quando o SUS não libera o exame pra eu
fazer...
Lembro de todas as colonoscopias que eu fiz,
Lembro da minha mãe, mãe é tudo igual né? Burlando as leis de todos os
hospitais que eu fiquei para poder ficar 1 ou 2h à mais comigo, brigando com os
médicos e com os enfermeiros pelo meu diagnóstico, acordando de madrugada e me
vendo no banheiro, sentada no chão chorando sobre o vaso sanitário, cansada de
vomitar pelas dores que eu nem sabia o que eram, me vendo chorando no sofá em
posição fetal, indo no quarto à noite me ver, e me encontrar delirando de dor,
sem dormir a noite toda... Mãe, o que passamos não foi fácil, e por mais que eu
agradeça todos os dias da minha vida, ainda será pouco, por tudo o que fez por
mim...
Lembro da depressão que eu tive, cansada já de passar por tudo, e não saber o que eu tinha, desgostei da vida, desgostei de mim, dos meus amigos, da minha família...
Lembro da depressão que eu tive, cansada já de passar por tudo, e não saber o que eu tinha, desgostei da vida, desgostei de mim, dos meus amigos, da minha família...
Lembro de
todos os chás de boldo que eu tomava o dia inteiro, por causa da gastrite
nervosa desenvolvida...
Lembro de
sair de casa sem me arrumar, sem sutiã, sem nem pentear o cabelo, pra ir no
pronto socorro tomar doses de ferro na veia, pois estava com uma anemia
profunda devido à essa gastrite...
Lembro de
ter tomado remédio de tarja preta para a depressão, e depois de dois anos,
graças a Deus, conseguir parar...
Lembro das dores, aquelas do colegial, que me acompanharam por 8 anos... Quando
eu dizia à alguém, “Tô com dor hoje!”, quem me conhecia já sabia, mas quem
ainda não me conhecia muito bem, perguntava “Dor de novo?”...
Lembro de todas as vezes que estava doendo muito, mas o sorriso no rosto tinha
que permanecer, no trabalho, na escola, na festa, na faculdade...
Lembro de
uma vida inteira sendo magrinha, sem saber o porque eu não engordava, se eu
comia por dois...
Lembro de
todas as vontades que eu passei, ao querer comer coisas que iam me fazer muito
mal naquele momento de crise...
Lembro dos olhares das pessoas, me julgando, duvidando das minhas dores,
pensando que eu estava fazendo um teatro para não precisar ir trabalhar...
Lembro de
cada vez que eu ia embora chorando do trabalho, com dor na barriga inteira, que
refletia até as minhas costas, e eu a pé, chorando e caminhando até a minha
casa... As pessoas me olhavam na rua, sem saber o que estava acontecendo...
Lembro de
orar à Deus, pedindo misericórdia, pedindo ajuda, pra tudo parar, pra dor
parar, para o cansaço parar, para as dores nas costas pararem, para eu poder
viver novamente como uma pessoa normal...
Lembro de todas as vezes que entrava na farmácia, e ficava feliz da vida quando
via um novo analgésico...
Lembro de
todas as vezes que chegava com dor no Pronto Socorro e já ia correndo lá pra
enfermeira me medicar pela veia, com o remédio mais forte que tinha para dor,
eram momentos sagrados que eu conseguia descansar um pouco...
Lembro do dia do meu diagnóstico, ah, feliz e infeliz dia! Primeiro perguntei “Doença
de crohn? O que é isso?” Depois, a gente pesquisa, escuta, lê, e se intera
sobre o assunto e vê que não é um bicho de sete cabeças... Na verdade são dez
cabeças, mas a gente consegue domá-las muito bem, e vivemos tranquilamente. Às
vezes elas acordam, mas conseguimos colocá-las para dormir novamente...
Lembro da luta que foi, pós diagnóstico... Os exames caríssimos, o médico especialista caríssimo... Ah, e como eu lembro dele me falando: “Vamos ter que operar!”...
Lembro de me afastar do trabalho, depois do diagnóstico, pois não conseguia mais trabalhar, não conseguia mais ter um dia normal...
Lembro de enquanto estive afastada, ir quase todos os dias no pronto socorro,
gritando de dor, e ouvir coisas do tipo, “Doença de crohn? O que é isso?” de
enfermeiros e médicos...
Lembro de um médico em especial, que me ajudou a conseguir o meu tratamento em
São Paulo...
Lembro de ter ficado com medo... São Paulo né, já me vinha na cabeça aquele mar de gente morrendo na porta dos hospitais...
Lembro de ter ficado com medo... São Paulo né, já me vinha na cabeça aquele mar de gente morrendo na porta dos hospitais...
Lembro de ter pego tudo, meu exames, minha mãe, minha coragem, e ter ido pra lá
e encontrado sim, esse mar de gente, mas calma, não tinha ninguém morrendo...
Era só um pouco mais de filas na minha vida...
Lembro da primeira consulta lá, minha mãe de mãos dada comigo, as duas chorando
feito bobas, felizes por estarem ali...
Lembro do olhar da minha mãe, super preocupada comigo, porém feliz em estarmos
no caminho certo...
Lembro da
luta que foi para conseguir essa tão sonhada cirurgia...
Lembro então, do dia 19 de fevereiro de 2016... Levantei, tomei banho, e fui
para a sala de cirurgia, feliz da vida (coitada não sabia pelo o que iria
passar rs)... Foram 6 horas de operação... Foram 6 horas de sono profundo!
Lembro de acordar, ah, queria ter dormido mais um pouco viu?!... Foi um misto
de tudo, de dor, de susto, de “O que ta acontecendo?”, de “Tô viva?”, de “Oi
gente, deu certo?”... Mas na verdade, o que mais se sobressaia era a dor...
Nossa, e que dor... Morfina foi minha amiga por belos três dias, de 4 em 4h...
Lembro da
recuperação... Lenta por si só...
Lembro de
entender o porquê dizem que carne de pescoço é dura...
Lembro de me levantar a primeira vez da cama, e não saber lidar com três bolsas
penduradas em mim, e adivinha, aquela dor...
Lembro dos enfermeiros falando que eu
tinha que andar, que eu tinha que comer aquela sopa horrível, que eu tinha que
tomar banho, que eu tinha que isso que aquilo, e eu só queria acelerar o tempo,
e sair de lá já recuperada...
Lembro de
todos os medicamentos que eu tomei na veia, uns ardiam tanto... Mas eu tinha
que aguentar...
Lembro das
minhas companheiras de quarto...
Lembro de
todas as manhãs, as visitas dos médicos, com a esperança deles falarem “Você
está de alta!”...
Lembro dos
momentos em que achei que ia morrer, de tão fraca que eu estava, sem conseguir
respirar por falta de todas as possíveis vitaminas e nutrientes que eu perdi
junto com todo o sangue que foi embora na cirurgia...
Lembro das visitas, minha família ia me ver, e eu podia ver nos seus olhos, o
espanto disfarçado, em me ver daquele jeito... Mas no fundo eu sabia que era
uma batalha vencida, que agora era só alegria... Batalha, pois a guerra ainda
não acaba, essa vai durar a vida toda!
Lembro de voltar pra casa, o vento e o sol no rosto, a dificuldade ainda em me
manter ereta, em deitar de lado, em subir escadas.... Ah, como eu me lembro...
Lembro que eu sempre, todas as vezes que volto de uma internação, chego em
casa, vou pro banho, e choro horrores, agradecendo à Deus, por eu ter voltado...
Lembro de como a vida ficou mais fácil, com tudo controlado após a operação...
Lembro do espanto com a mudança nas atividades no meu intestino, que antes era
preso, agora solto...
Lembro de todo o apoio que recebi da minha família...
Lembro de como eu comecei a sentir falta da dor, e achar estranho, comer alguma
coisa e não doer... “Mãe não tá doendo!”... Eu me sentia estranha, pois a dor
já fazia parte de quem eu era, estava faltando alguma coisa...
Lembro de voltar à sair, voltar como a minha vida social, voltar à trabalhar...
Ah, como hoje eu aproveito muito mais, por saber o real valor de uma vida sem
dores...
Lembro das consultas que tive depois, com os médicos, e do susto que foi em saber
depois que eu não estava, e não estou em remissão (ainda não fiz outro
exame)... Porém acredito nela, e acredito que chegarei lá ainda...
Lembro dos remédios, que faziam meus cabelos caírem...
Lembro de
ter a vontade de criar um blog, para que eu pudesse contar minhas experiências
e então, ouvir outras experiências também... Conscientizar as pessoas sobre a
doença! E então veio o “Vida de Crohnista!”
Lembro após tudo isso, quando comecei recentemente à tomar um medicamento
biológico, que é um dos melhores para quem tem doença autoimune... Lembro da
primeira aplicação! Aiiiiiiii como dói!
Lembro de tudo isso que contei pra vocês, tim tim por tim tim... Olho para trás
e apesar de tudo, só enxergo gratidão, por hoje eu estar bem.
E por fim,
lembro que não tem cura... E como eu disse, a guerra é longa... Mas de batalha
em batalha vencidas, conseguimos viver uma guerra inteira.
Jéssica Espolzino.